quinta-feira, 28 de março de 2013

Confissão nº 33

Eu vi minha vida ramificando-se diante de mim como a figueira verde da história. Na ponta de cada galho, como um figo gordo e roxo, um futuro maravilhoso acenava e piscava. Um figo era um marido, um lar feliz e filhos, outro era uma poetisa famosa e consagrada, outro era uma professora brilhante, outro era a Europa, a África e a América do Sul, outro era Constantino e Sócrates e Átila e outros vários amantes com nomes exóticos e profissões excêntricas, outro ainda era uma campeã olímpica. E, acima de tais figos, havia muitos outros. Eu não conseguia prosseguir. Encontrei-me sentada na forquilha da figueira, morrendo de fome, só porque não conseguia optar entre um dos figos. Eu gostaria de devorar a todos, mas escolher um significava perder todos os outros. Talvez querer tudo signifique não querer nada. Então, enquanto eu permanecia sentada, incapaz de optar, os figos começaram a murchar e escurecer e, um por um, despencar aos meus pés.

Sylvia Plath

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Confissão nº 32



Naufrágio
E temo, e temo tudo, e nem sei o que temo.
Perde-se o meu olhar pelas trevas sem fim.
Medonha é a escuridão do céu, de extremo a extremo...
De que noite sem luar, mísero e triste, vim?
Amedronta-me a terra, e se a contemplo, tremo.
Que mistério fatal corveja sobre mim?
E ao sentir-me no horror do caos, como um blasfemo,
Não sei por que padeço, e choro, e anseio assim.
A saudade tirita aos meus pés: vai deixando
Atrás de si a mágoa e o sonho...E eu, miserando,
Caminho para a morte alucinado e só.
O naufrágio, meu Deus! Sou um navio sem mastros.
Como custa a minha alma a transformar-se em astros,
Como este corpo custa a desfazer-se em pó! 
   Alphonsus de Guimaraens

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Confissão nº 28

O que dói mais
Não é o que corta
Não é o que sangra
O dói mais é a ausência
É o não sentir
É se tornar apático
Invisível nos momentos mais visíveis
O que dói mais
É procurar uma palavra
Para explicar o que se sente
E perceber que não existe nenhuma
Para explicar quando simplesmente
Não se sente
O que dói mais não é sangrar
O que dói mais é chorar
É sentir tudo ao mesmo tempo
Sem sentir nada
O que dóis mais
Não é o que se diz
É o que não pode ser dito
É o que fica preso na garganta
E angustia o coração.