quarta-feira, 25 de julho de 2012

Confissão nº 1

Eu tenho que admitir, por mais doentio que pareça, que eu adorei aquilo. Adorei ver todo aquele sangue na minha mão, e a forma como ele pingava no chão. A sensação era de que eu estava em um sonho, e aquele banheiro, que eu sempre achara nojento e malcheiroso, parecia o melhor lugar do mundo, e tinha o genuíno cheiro da liberdade. A verdadeira liberdade, não aquela que você sente quando seus pais te deixam sair sozinho pela primeira vez, mas aquela que você sente que não vai mais ter fim, e que te deixa tão feliz que você sente que vai explodir. 
Por uns segundos eu me senti a pessoa mais feliz do mundo, enquanto eu sangrava cada vez mais. Por uns segundos eu me senti em paz.

Então vieram os pensamentos. Um milhão de pensamentos e de sentimentos vindos de todas as direções, e eu não pude evitar o pânico, e eu não pude evitar as lágrimas que vieram em seguida. 
Me senti egoísta, me senti a pior pessoa do mundo, por querer ir embora e deixar todo mundo ali. De fazer com eles, o que sem querer, minha mãe tinha feito comigo. Eu sabia o quanto doía. E eu não queria que ninguém no mundo sentisse o mesmo que eu senti, e sentia.

Cada vez eu via mais sangue, e cada vez mais aquilo tudo parecia irreal. Uma parte de mim ainda me dizia que na verdade, eu estava distraída na aula de inglês, e não sangrando no banheiro do colégio.

O meu pânico aumentou, de repente eu não podia mais fazer aquilo.
 Ir embora desse mundo de merda ainda era o que eu mais queria, mais eu vi que não podia fazer aquilo com as pessoas que eu amo. 

Juntei todas as forças que eu tinha e entre lágrimas, peguei o meu celular e liguei para a única pessoa que podia me ajudar no momento. Tudo que eu consegui dizer para ela foi: me encontre no banheiro do térreo. 
Quando ela chegou na porta e perguntou se eu estava lá dentro, eu só disse: por favor, não se assuste. 
Eu sabia que naquele momento, mais do que os outros, aquele banheiro não era uma bonita visão.


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