segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Confissão nº 32



Naufrágio
E temo, e temo tudo, e nem sei o que temo.
Perde-se o meu olhar pelas trevas sem fim.
Medonha é a escuridão do céu, de extremo a extremo...
De que noite sem luar, mísero e triste, vim?
Amedronta-me a terra, e se a contemplo, tremo.
Que mistério fatal corveja sobre mim?
E ao sentir-me no horror do caos, como um blasfemo,
Não sei por que padeço, e choro, e anseio assim.
A saudade tirita aos meus pés: vai deixando
Atrás de si a mágoa e o sonho...E eu, miserando,
Caminho para a morte alucinado e só.
O naufrágio, meu Deus! Sou um navio sem mastros.
Como custa a minha alma a transformar-se em astros,
Como este corpo custa a desfazer-se em pó! 
   Alphonsus de Guimaraens

Um comentário:

  1. Uau...que profundo...
    Estou seguindo viu.
    Tenha força sempre 'Não sei por que padeço, e choro, e anseio assim." esse verso sou eu!
    Beijoos e força sempre

    ResponderExcluir